domingo, 26 de outubro de 2008



A marmota do mormaço em Poá pula a sequência dos textos em prosa e apresenta a tradução para o português de 3 poemas do novo livro da poeta argentina María Pugliese:



desnudos

I

de ida

el escultor de ojos brillantes como plumas de pájaro
dijo
que le vendió sus obras a Chico Buarque en Bahía
y que los tres días más bellos fueron en Estocolmo
comer dormir hacer el amor
despertar por las mañanas ante una pareja de cisnes

de vuelta

el olor a miseria invade todos los sentidos...
la miseria desnuda
pero oculta los cisnes
con velos de tristeza

II

Ama y no se desviste
Centinelea puertas
¿Que se cierran?
¿Hacia dónde ir desde este lugar?

III

La certeza pende
su flanco ámbar
inquebrantable


desnudos


I

de ida

o escultor de olhos brilhantes como plumas de pássaro
disse
que vendeu suas obras a Chico Buarque na Bahia
e que os três dias mais belos foram em Estocolmo
comer dormir fazer amor
despertar pelas manhãs ante um casal de cisnes

de volta

o cheiro da miséria invade todos os sentidos...
a miséria desnuda
porém oculta os cisnes
com o véu da tristeza

II

Ama e não se despe
Vigia as portas
Que se fecham?
Havia a onde ir daqui?

III

A certeza pende
seu flanco
inquebrantável







alimento


vanidades y ansias

despojo
trenzas de mandrágoras

desgarro
crisálidas
sobre heridas abiertas

reservo
unicornios y arpías
arrullo de ángeles fetiches
hojas de salvia y menta
paños fétidos

el futuro narra el pasado en un presente
de inmolación
por tanta luz
por tanto




alimento


vaidades e ânsias

despojo
tranças de mandrágoras

destruo
crisálidas
sobre feridas abertas

reservo
unicórnios e harpas
toada de anjos divinos
folhas de salva e menta
trajes fétidos

o futuro narra o passado no presente
de imolação
por tanta luz
por tanto




me busca

me alcanza
me atropella
me empuja
me tira
me sostiene
me enlaza

me esquiva
ni siquiera me habla
grita
me enfrenta
y se humilla
basta dice
basta de enfermedad
me cura
me renueva

pero no me abandona





me busca

me alcança
me atropela
me empurra
me tira
me sustenta
me enlaça

me esquiva
não fala
grita
me enfrenta
e se humilha
basta dizer
basta de enfermidade
me cura
me renova

porém não me abandona



Tradução de Cláudio Portella. Poemas del libro Vigías en la noche (1ª ed. - Buenos Aires: Último Reino, 2007.)

domingo, 5 de outubro de 2008

A Marmota do Mormaço em Poá



Tudo deu realmente em merda, em muita água pelo ladrão, em uma puta usando "Roberto Cavalli" com um código de barra tatuado na bunda. Tudo bem! Pára de dizer tudo bem, tudo bem uma pinóia! Agora é pecado sangrar. Carpinejar capinou o mato onde se esconde o pedaço de toucinho. Passou a era da invenção, depois do avião é tudo café pequeno. Estamos na fase das frases feitas. Depois do travesti, é tudo puta! É tudo lugar comum, é tudo frase feita, é tudo chavão. Ah, Deus meu! Como detesto a palavra tudo, porque tudo é tudo e nada num só lugar, numa única palavra. Já disse isso? Ora, vão para a caixa prego! Pregar um prego no assento de uma cadeira para nossa querida professorinha sentar e nos ensinar tudo. Ah, meu querido Deus! Como odeio essa palavra! Como odeio as palavras, todas! Sem exceção! Odeio todo o dicionário, odeio tudo! Ah, Deus meu! A nossa querida professorinha de óculos, com uns putos peitões, com umas senhoras pernas, uma senhora bunda, nos ensina a somar, a dividir. Mas no final das contas tudo (Ódio!) estará errado, absolutamente errado. De certo só a punheta com a imagem da professorinha na cabeça, no cabeção do pau! Estão vendo meus queridos!? O que é um autorzinho fazer um atorzinho passar vexame diante de uma platéia, que aparentemente gosta de teatro, que saiu de casa e pagou para ouvir poesia? Essa louca degringolada que foge de qualquer concepção e entra no chão. Um chão profano e popular. Em nosso planetinha há mais poetas que recicladores de lixo. Vão em paz e que a maldita poesia não lhes acompanhem. Reciclem! (Cai o pano).